quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Resíduos de um dia qualquer
Ricardo Gondim

O silêncio de minha dor é secreto. A dor do meu silêncio, ninguém conhecerá. Quero um canto, preciso me esconder. Refugo as palavras dóceis, os rasgos piedosos, os olhares bondosos. Iceberg, submergi nos abismos do inconsciente a minha imaturidade que tanto horroriza os outros. Sou ateu de Narciso. Caminho solitário por alamedas encharcadas de penumbra.

Os meus afetos se contaminaram. Estou grávido de desencanto. Adoeço com o cancro da decepção e já detecto metástase nos rins. Imobilizado por minha incapacidade de lidar com a frieza dos abandonos, sinto-me arremessado contra uma parede.

Preciso levantar-me. Não sei como, mas hei de lavar-me com os respingos de simplicidade que percebo no próximo. Negocio com a alma e repito: continue por mais um dia; só mais um. E assim, dia a dia, de mal em mal, cumpro a minha sina.

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